Mostra Cênica 2017: a arte como instrumento de resistência


“Resistência”: substantivo feminino. 1. Força por meio da qual um corpo reage contra a ação de outro corpo; 2. Defesa contra o ataque; 3. Oposição; 4. Delito que comete aquele que não obedece à intimação da autoridade.

A definição do dicionário resume bem o que foi a Mostra Cênica 2017, realizada de 08 a 12 de fevereiro pela Cia Cênica, de São José do Rio Preto – SP. Por meio de uma ampla e variada programação de espetáculos, peças teatrais e atividades formativas, o evento tratou do tema “Resistências” em todas as definições da palavra, ampliada sob variadas perspectivas, de um jeito que só a arte é capaz de traduzir.



Basta observar a programação. “Ofélia/Hamlet/Rock Machine”, da Cia Teatro de Riscos (Ribeirão Preto – SP), trouxe a discussão do feminismo ao centro do palco e propondo a “defesa contra o ataque”. Já “Reset Love”, de theUrgia (Rio Preto – SP) trouxe a discussão do amor romântico em oposição à tecnologia e à contemporaneidade. Enquanto isso, “Cérebro de Elefante”, da Cia Ir e Vir (Rio Preto – SP), trouxe à tona o vazio existencial humano, um ser tão necessitado do outro para justificar sua própria existência, ou seja, a reação de um corpo à ação de outro corpo. E ainda “Blitz – O Império que Nunca Dorme”, da Trupe Olho da Rua (Santos – SP), que trouxe uma crítica mordaz à Polícia Militar e suas contradições e deixando bem claro o que acontece com aquele que não obedece à intimação da autoridade.



Não faltaram reflexões acerca da resistência humana diante das dificuldades criadas pelo próprio ser humano, seja por meio da angústia de Alice, de “Réquiem Para um Rapaz Triste” (aliás, Rodolfo Lima, que grande ator é você!), ou por meio da revolta contundente, necessária e cheia de graça da G.A.L. – Grupo de Apoio à Loucura na performance “Puto!”. E o que dizer da efemeridade da vida abordada com tanta graça e beleza pela Delirivm Teatro de Dança em “E Toda Vez que Ele Passa, Vai Levando Qualquer Coisa Minha...”?



Também não faltaram diversas abordagens e pontos de vista da “resistência” por meio das “Rodas de Resistências”, realizadas em todas as tardes durante o evento, e que reuniram os artistas participantes da Mostra Cênica 2017 em importantes discussões acerca do fazer teatral. As conversas serviram para tratar de criação, produção, manutenção, circulação, difusão e organização do teatro, mas foram além, colocando a arte como ferramenta de resistência, ressaltando a importância da organização de redes e coletivos que, baseadas em afinidades e afetos, conseguem força para articular a criação e manutenção das políticas públicas voltadas à cultura.



Em seus cinco dias de intensa programação, a Mostra Cênica 2017 – Resistências cumpriu com louvor o seu objetivo de trazer o teatro como resistência, seja em sua temática ou estética, seja nos meios de existência e manutenção de grupos e coletivos, ou ainda, em suas formas de criação, produção e difusão artístico-cultural. E tudo isso proporcionando ao público o acesso ao teatro de qualidade e gratuito, ocupando espaços diversificados e descentralizando a cultura. Além disso, permitiu o encontro de grupos teatrais, atores, diretores e produtores culturais, ampliando ainda mais as redes de afeto que, sem dúvidas, saíram mais fortalecidas da Mostra Cênica.


Fotos: Valdecir Gerotto

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