A Sessão de Abertura da 16ª Festa Literária Internacional de Paraty – Flip, nesta quarta-feira, 25 de julho, trouxe a obra de Hilda Hilst, Autora Homenageada desta edição, interpretada por dois grandes nomes da arte brasileira: a atriz Fernanda Montenegro, que realizou uma leitura dramática de textos da autora, sob direção de Felipe Hirsch, e a compositora Jocy de Oliveira, que criou uma apresentação especial para a abertura da Flip. A Sessão de Abertura contou também com falas do diretor geral do Programa Principal, Mauro Munhoz; Liz Calder, presidente da Flip; e Joselia Aguiar, curadora da edição.
“Nossa Sessão de Abertura é um símbolo de artes e gêneros que não têm fronteiras entre si. Teatro, música e literatura integrados”, afirmou Mauro. Na sequência, subiu ao palco do Auditório da Matriz Liz Calder, que deu boas-vindas aos paratienses e aos visitantes da Flip. “Estou feliz da vida com o nosso programa deste ano e, especialmente, com essas duas mulheres magníficas”, disse ela, em referência à participação de Fernanda e Jocy. Joselia relacionou Lima Barreto, Autor Homenageado 2017, e Hilda Hilst – os dois navegantes de vários gêneros, que não fugiram às questões de sua época. “Neste ano temos uma Flip mais intimista, sem deixar de tocar em temas candentes: o racismo, a violência religiosa e de gênero”, pontuou Joselia.
Leitora de Hilda Hilst, Fernanda Montenegro declamou textos da escritora que assinalam sua face política, erótica, cômica e metafísica. “Sempre me perguntaram por que eu escrevo, e uma palavra que eu não tinha lembrado – talvez quem sabe por amor próprio – é a palavra debilidade. É uma sensação de debilidade maior do que de força, o ato de escrever”, leu Fernanda. E a atriz deu também voz a íntimas confissões da escritora: “Parece que eu consegui dizer coisas poeticamente de verdade”. Também à dor de não ser lida. “Acho que as tentativas que eu fiz em seguida, meu teatro, a ficção, foram tentativas de aproximação, um ir em direção ao outro. Mas algo de trágico aconteceu, porque foi um fracasso completo.” Aplaudida de pé, Fernanda se despediu festejando a autora: “Maravilhosa Hilda Hilst, inesgotável Hilda Hilst, amada Hilda Hilst!”.
Então surgiram da plateia as sopranos Gabriela Geluda e Doriana Mendes, que executaram parte da obra Ouço vozes que se perdem nas veredas que encontrei, de Jocy de Oliveira – em menção às vozes do além-mundo que Hilda buscava capturar em seu gravador. Jocy chamou atenção para a presença da morte na obra da escritora: “Em 1970, Hilda decidiu mergulhar em curiosas experiências tentando registrar vozes de mortos. Hilda tentava se comunicar com outros mundos”. Ao apresentar sua segunda obra que trouxe à Flip, Medea Solo, Jocy associou a transgressão de Hilda à da personagem mitológica Medeia. “Foi no grito das mulheres guerreiras excluídas que resgatei o grito de Medeia, o direito de ser diferente num mundo em que ela foi considerada terrorista. A Medeia desterrada, discriminada: questões pertinentes do mundo atual.”
Declarou por fim: "São muitas as Hildas. Ela encarna um universo poético único e nos representa como mulheres. Nós, mulheres, somos todas Hilda".
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