"O Segredo da Donzela" - Marimar Souza


Um fazendeiro tinha uma filha muito bonita, fascinante e inteligente. Moravam na fazenda Barborena , na cidade de Cassianópolis, no alto de uma montanha, que era vigida por seu capangas, porque sua filha era seu maior tesouro,  nem mesmo seus capangas podiam ver o rosto da menina, aquele que tentasse era condenado a morte. 

Quando a sinhazinha Pilar completou doze anos, seu pai começou a procurar um pretendente para casá-la, daria também um saco de ouro para eles viverem bem o resto de suas vidas. Deviria ser um rapaz muito inteligente que não tivesse medo de morrer. Logo pegou uma agulha e costurou na palma da mão da menina a casca de um piolho. Então disse a para seus capangas: 

- Vão a cidade e avisem aos rapazes que a mão da donzela Pilar será dada a quem adivinhar o que ela tem costurado na palma de sua mão e quando ela completar dezoito anos farei o casamento com muito gosto, dando um saco de ouro como dote, mas aquele que aceitar esse desafio deverá saber que caso não descubra o segredo será condenado a morte por ter visto seu rosto. 

Assim os capangas fizeram, foram de casa em casa avisando.  

Passou-se os anos, todos os rapazes que tentavam adivinhar esse grande segredo morriam e a sinhazinha Pilar foi ficando triste e solitária, nem queria mais sair do seu quarto. 

Na cidade de Cassianópolis tinha uma pobre senhora, que morava numa casinha simples, bem humilde, ela deu à luz a um menino chamado José, bem nessa época. José foi ficando mocinho e perguntou para sua mãe: 

- Mãe porque você não teve outros filhos? Vejo meus amigos com tantos irmãos e eu tão solitário! 

 -Filho você teve três irmãos, mas todos morreram jovens demais, eles receberam um recado do fazendeiro de Barborena para adivinhar um segredo que tinha na palma da mão de sua filha, sabiam que se não descobrissem receberiam o castigo imposto pelo pai da menina, mesmo eu implorando para não irem desobedeceram  e não conseguiram adivinhar, disse a mãe de José. 

José ficou inconformado e resolveu vingar a morte de seus irmãos, iria achar um meio de descobrir esse segredo, casar com a sinhá Pilar e ainda iria ficar rico. Naquela manhã saiu bem cedinho pela estrada procurando formas de concretizar seu plano, quando de repente viu um homem sentado na beira da estrada comendo um porco de dez arrobas sozinho. Jose ficou pasmo e começou a indagar o homem: 

- Moço, o senhor consegue comer a carne de um porco tão grande sozinho? Foi aí que o homem chamado pelo apelido de João Comilão respondeu: 

- Isso só no café da manhã, porque no almoço já estarei morrendo de fome! 

- Estou precisando de pessoas corajosas para me ajudar num plano, o senhor aceitaria? Disse José. 

- Claro, desde que tenha uma boa recompensa! Falou Joao Comilão. 

Seguiram pela estrada conversando e pensando o que fariam com o dinheiro se conseguissem resolver aquele segredo. Então avistaram um homem com arco e flecha nas costas olhando fixamente para o céu. José chegou perto, bateu no ombro do rapaz, mas sem fazer movimentos bruscos o rapaz falou: 

- Espere um pouco e se afaste! Nisso caiu uma flecha com um Beija Flor já seco, cheirando mal. - Desculpe por não lhe responder moço, mas a três dias tinha lançado minha flecha lá de cima do morro para pegar esse Beija flor que roubava gramas de ouro do ourives de Cassianópolis, mas exagerei na força e a flecha subiu tão alto que só caiu hoje, disse o Flecha, melhor arqueiro daquele lugar. 

Admirado com o dom do Flecha, José o convidou para fazer parte do seu plano, assim poderiam juntar suas habilidades para descobrir o segredo do fazendeiro e ainda ficarem ricos. Logo a frente, ficaram curiosos por verem um homem no meio da estrada com o ouvido no chão. Desta vez foi João comilão que perguntou: 

- Ei cara, o que está fazendo com o ouvido no chão neste lugar? 

O homem levantou sua mão para que parassem de falar e logo depois explicou: 

- Eu estava assistindo a missa em Roma. 

- Como assim? Você consegue ouvir a missa em outro país? Perguntou o Flecha espantado: 

 O seu Escuta, como era chamado, logo foi abrindo o jogo para eles: 

- Sim, basta eu encostar o ouvido no chão que escuto o que quiser, é só concentrar-me no que desejo naquele momento. 

Então José o convidou rapidamente, pois suas habilidades seriam de vital importância para seu plano. Seguiram viagem para a fazenda Barborena, faltam mais ou menos dois quilômetros para chegar quando avistaram um homem com os pés amarrados. Então seu Escuta curioso perguntou ao homem: 

- Ei! Precisa de ajuda? 

- Não senhor! Estou com os pés amarrados para pegar aquele veado que está correndo na campina verde, pois sou tão veloz que se não amarrar meus pés vou passar pelo bicho e não conseguirei pegá-lo. Falou o homem chamado ligeirinho. 

Então José o convidou para sua jornada. Chegaram na fazenda em cinco, logo foram avistados pelos capangas do fazendeiro, que os cercaram com suas armas levando todos para a fazenda  

O fazendeiro olhou para eles e perguntou: 

- O que queres em minhas terras? Querem morrer? 

José rapidamente falou suas intenções para o fazendeiro: 

- Eu vim para descobrir o segredo na palma da mão de sua filha e trouxe meus amigos para me ajudar, se o senhor permitir. 

Dando uma enorme gargalhada, com uma cara de deboche, pois sua intensão não era casar sua filha e sim matar todos os pretendentes, foi logo falando: 

- Tudo bem, mas se você errarem todos irão morrer! Preciso saber da boca de cada um se aceitam essa proposta, porque passarão a noite trancados no quarto e só poderão olhar a mão de minha filha pelo amanhecer. 

Todos responderam que aceitavam, sabiam que com suas habilidades descobririam o perigoso segredo. 

No quarto o seu Escuta colocou o ouvido no chão para ouvir a conversa de todos na casa. Foi aí que escutou a donzela Pilar chorando e clamando para sua mãe: 

- Mãe, não aguento mais essa tortura, mais cinco rapazes serão condenados a morte, pois nunca irão descobrir que meu pai costurou em minha mão a casca de um piolho. 

Eles começaram a gritar no quarto para o fazendeiro abrir a porta, mesmo sem ver a mão da moça já sabiam o segredo. O fazendeiro saiu correndo para ver o que eles sabiam, pois assim livrara-se deles aquela noite mesmo. 

 Ao abrir a porta José foi logo falando: 

- O segredo na palma da mão de sua filha é uma casca de piolho costurado em sua mão. 

Chocado o fazendeiro respondeu a José: 

- Não sei como, mas você acertou José, vou fazer uma festa amanhã para despedir da minha filha e lhe dar o dote prometido, só que para leva-la vocês terão de comer tudo o que eu colocar na mesa, combinado? 

-Será moleza! Respondeu João comilão. 

Então o fazendeiro mandou matar dez vacas, dez porcos, dez galinhas e fazer cem pães, além dos cinquentas litros de bebidas colocados a mesa. Chegou a hora da festa e João comilão foi logo falando

Ninguém toca, essa comida só da para mim! E foi comendo tudo. O fazendeiro entrou em desespero. E propôs outro desafio: 

- Olha eu tenho uma empregada que corre mais que o vento, nenhum homem da cidade corre mais que ela, tem a velocidade de um veado e levará um pote para encher de água do riacho, quem conseguir encher o outro pote e chegar antes dela ganhará a competição, então poderá levar pilar. 

O Ligeirinho foi logo falando:- Deixa comigo!  

A moça estava voltando com o pote quando viu ele no meio do caminho amarrando os pés. Ela pensou: 

- Se ele está amarrando os pés é porque tem alguma magia como eu, vou chamá-lo e colocar no seu dedo o anel de dormideira. Com seu charme falou para ligeirinho que queria dar aquele anel como presente, para ele lembrar que um dia correu com ela. 

Ao colocar no dedo caiu no sono e a moça continuou a corrida. Mas seu Escuta estava com o ouvido no chão, e falou:  

- José a moça colocou um anel de dormideira no dedo do ligeirinho e ele caiu no sono! O Flecha então entrou em cena e pegando seu arco foi logo gritando: 

- Essa é para mim! Lançou sua flecha que acertou no anel quebrando seu encanto. Ligeirinho acordou e mesmo com os pés amarrados chegou antes da empregada do fazendeiro. 

O fazendeiro estava estarrecido e não queria de forma alguma entregar sua filha, propôs a todos que dormissem mais uma noite, pela manha pensaria no último desafio. 

José viu que ele não entregaria a filha, só estava arrumando desculpas. Na madrugada roubou a sinhazinha e o saco de ouro, com seus amigos fugiu pela estrada do morro. 

Ao amanhecer o fazendeiro acordou e viu que eles tinham sumido com pilar, chamou seus capangas que foram na cidade convocar todos os homens para procurar o José e seu bando, pois haviam roubado sua filha e seu dinheiro. Todos subiram nos cavalos e começaram a procurar pela única estrada possível de passar naquele morro. 

Nisso seu Escuta colocou o ouvido no chão e falou: 

- Estão vindo a cavalo com mais de cem pessoas! 

- Deixa comigo! Disse João Comilão, que foi logo abaixando ali mesmo e fazendo suas necessidades, pois tinha comido o suficiente para fazer um grande lamaçal. E assim os cavalos ficaram atolados naquele trecho da estrada e ninguém conseguiu passar. 

Quanto a José e Pilar, casam, ele pegou sua mãe e foram morar bem longe daquele lugar. Todos ficaram ricos e compraram sua própria fazenda. 

Marimar Souza
(texto do Sarau dos Amigos de 22/02/2019)


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