Dedicado a professora Arlete Motovani
Recebi essa semana mensagem de uma pessoa sensível e estudiosa falando sobre a importância de divulgar a Literatura, incentivar as pessoas a lerem, valorizar a Literatura.
Nós professoras e professores temos, ou pelo menos deveríamos ter inserido em nossa prática, o fomento, o incentivo, a promoção da Leitura/Literatura.
Incentivar a leitura é trabalhar no espírito do que diz o poeta Castro Alves em seu famoso poema O Livro e a América:
Oh! Bendito o que semeia/Livros... livros à mão cheia/E manda o povo pensar! O livro caindo n'alma/É germe — que faz a palma/ É chuva — que faz o mar.
O poema chama de Bendito, aquele que semeia livros, o que possibilita as pessoas pensarem.
Sejamos semeadores e semeadoras de livros!
Li há pouco tempo o pequeno e lindo livro de Ailton Krenac, Ideias para adiar o fim do mundo, em que ele fala da luta e resistência dos povos da floresta pela sobrevivência em meio a exploração e destruição do lugar ancestral desse povo. Ao escrever esse texto, lembrei desse livro e não pude deixar de fazer uma analogia do fim do mundo com o fim da leitura/Literatura.
Na sociedade indígena ancestral de Krenac, a leitura é oral, feita pelos Xamãs, pajés e velhos sábios, inspirados pelos xapiris (espíritos) que contam as histórias dos mitos que sustentam as vivências da comunidade.
Na sociedade urbanizada e individualista que vivemos, NÃO LER é mergulhar na escuridão existencial, é viver na impossibilidade de vivenciar por meio da ficção os dramas da nossa condição humana. E com essa vivência desenvolver empatia, humanizar-se, como nos ensina Antônio Candido, ao desenvolver o conceito de humanização via literatura, que abrange a ideia de que o ser humano precisa de literatura, tem direito a usufruir da literatura para tornar - se mais humano.
NÃO LER é ser privado do poder poético das lendas, dos mitos, dos contos.
NÃO LER nos induz a acreditar em mentiras e superstições inventadas por manipuladores com interesse próprio.
A professora e escritora Marisa Lajolo diz que ler é aproximar-se de um mundo que acaba de ganhar existência, são os olhos do leitor que dão vida a Literatura lida.
Em um tempo de vírus mortal como o que vivemos, a leitura/Literatura mais do que nunca nos salva na solidão do isolamento social que muitos de nós ainda estamos vivendo, é a Literatura que nos faz companhia. Por isso ela cresceu na pandemia.
As festas e eventos literários se reinventaram e aconteceram e acontecem online, os clubes de leitura e de assinatura de livros se expandem por todo o país, as editoras publicaram e venderam muitos livros em 2020 e continuam vendendo em 2021, há editais de financiamento para dinamização das bibliotecas públicas, que se transformam aos poucos em lugares de multileituras, Podcast de leituras literárias são uma nova onda.
Há um grande número de escritores e escritoras surgindo, se estruturando, sendo publicados e se auto publicando.
A Literatura produzida por escritores e escritoras negros, negras, indígenas, LGBTQI+ e periféricos, desponta brilhante no horizonte literário.
A Literatura está forte! Vibrante! Diversificada! Mais acessível do que nunca, democratizada nos meios digitais, só não ler quem não sabe e quem não quer.
Encerro essa reflexão sobre leitura, literatura, livros, com as palavras da jornalista espanhola Rosa Montero, uma dessas pessoas que lutam pela difusão da leitura no mundo: “Quanta dor, quanta beleza, quanta vida, há nos livros que lemos.”
Edilva Bandeira é Mestre em Estudos Literários (UFMS), especialista em Língua Portuguesa e Literatura (UFMS e UNICAMP), graduada em Letras, Pedagogia e Artes Visuais. É professora efetiva de língua portuguesa na rede pública de ensino de São Paulo desde 2000 na Escola Estadual Arno Hausser em Ilha Solteira.
2 Comentários
Parabéns, Edilva. Quem lê nunca está só. Leitura é vida...texto maravilhoso..nos faz refletir. Maria Ivanilda.
ResponderExcluirNão consigo imaginar minha vida sem leitura/literatura...mesmo quando não estou lendo...saber que meus livros estão me esperando já me basta!
ResponderExcluir"quanta dor, quanta beleza, quanta vida há nos livros que lemos"... definição perfeita. Parabéns Edilva!