Esboço para uma história sobre o mundo dos livros



Por Edilva Bandeira 


"Livros são objetos transcendentes

Que podemos amar de um amor táctil”. 

Caetano Veloso.


Há muitos e muitos anos que vivo no mundo paralelo dos livros, mundo utópico e imaginário, nem por isso menos real. Livros que começaram a povoar meu mundo infantil, depois jovem, adulta e hoje velha, (tenho 96 anos). 


A história que vos contarei é antes de tudo uma história de livros, cujas personagens, são personas no sentido ficcional, mas há também as pessoas reais que passaram por minha vida e viraram personagens na minha história de livros.


São tantas histórias de livros, vividas em tantos lugares, histórias reais e imaginárias, porque para nós que vivemos no mundo dos livros, a linha que separa imaginação e realidade, personagens e pessoas é mais que tênue, é imperceptível.


Contarei esta história como uma forma de lembrar, agradecer e homenagear John Steinbeck, Herman Hesse, Clarice Lispector, Manuel Bandeira, Jane Austen, Edgar Allan Poe, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, José de Alencar, Raquel de Queiroz, Patativa do Assaré, Aluísio e Álvares de Azevedo, João Cabral de Melo Neto, Castro Alves, Vinicius de Moraes, Ah!! São tantos, Ernest Hemingway, Simone de Beauvoir, Gabriel Garcia Marques, José Saramago, Carlos Drummond de Andrade, Pearl S. Buck, chega, não vou conseguir lembrar de todos, mas como não lembrar de Charles Dickens, Tolstoi, Faulkner, Jorge Luís Borges, Rubem Alves.


Na minha cabeça se embaralha autores, histórias, personagens, tempo, às vezes penso que li primeiro esse livro, quando na verdade li primeiro foi aquele. Foram tantos livros lidos durante a vida, o que eles me fizeram? Tudo. Me transformaram no que pude ser de melhor, me ensinaram a não crer e não ter verdades absolutas, me ensinaram que independente do espaço ou do tempo que viva, da língua que fale, do deus que acredite, todos os seres humanos convivem com o bem e o mal em seus corações, por isso todos somos belos e terríveis metamorfoseados em anjos e demônios.


Os livros me ensinaram que todos os conflitos humanos se findam quando nossa história pessoal termina, porque evidentemente o que virá depois será uma outra história que também terá fim, compreendeu?


Os livros nos dão conhecimento amplo, geral e irrestrito do ser humano. Quando os escritores nos permitem mergulhar em seus mundos povoados pelas personagens e prescrutar a beleza e o horror que se esconde em suas mentes, eles nos preparam para o exercício da vida, que é existir em um mundo em que o animal mais cruel, terrível e predador é justamente o que é dotado de razão, apto para escolher entre o bem e o mal, detentor do mais alto grau de diferenciação entre as criaturas do mundo, que é o livre arbítrio.


Eu já tentei contar essa história de livros tantas vezes para tantas pessoas, mas jamais consegui terminar, porque as histórias dos livros não têm fim. Os escritores as interrompem porque se cansam de contá-las ou porque seus interesses são despertados por outras histórias que gestam dentro deles.


Qualquer leitor um pouco esperto sabe que Demien, A Leste do Éden, Perto do Coração Selvagem e tantos outros livros podiam continuar infinitamente. Eu vou te contar minha história pessoal com os livros até eu me cansar, pois a histórias de todos os livros que li, estou lendo e ainda vou ler, são histórias sem fim. Vamos a ela, opa! Alguém me chamou, daqui a pouco volto e continuo a história......



Edilva Bandeira é Mestre em Estudos Literários (UFMS), especialista em Língua Portuguesa e Literatura (UFMS e UNICAMP), graduada em Letras, Pedagogia e Artes Visuais. É professora efetiva de língua portuguesa na rede pública de ensino de São Paulo desde 2000 na Escola Estadual Arno Hausser em Ilha Solteira. 

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