Declaração de amor aos homens



Por Edilva Bandeira

Eu vivo (ou vivia?) cercada de homens, sou (toda mulher é?) uma ilha rodeada de homens por todos os lados. São filhos, maridos, amantes, amigos, colegas de trabalho, chefes, funcionários e tantos outros homens que estão perto de nós durante toda nossa vida.


Sempre gostei dos homens, de suas vozes, mãos, cheiros e ideias. Acho os homens objetivos, práticos, calmos diante das tempestades da vida. 


As mulheres tem outras inúmeras qualidades que eu também gosto muito, mas não vou citar, porque esse texto é para falar de homens.


Para a maioria das mulheres ter um marido, um homem, ainda é um capital social e simbólico. Eu não tenho um homem exclusivo para mim. Uma amiga psicóloga me disse que a sociedade faz a seguinte ideia de uma mulher sozinha: ou é lésbica, frigida ou puta.


Há tempos não quero mais ficar com homens, não sei se esse “não querer” é passageiro ou definitivo. Antes eu queria muito os homens pra mim, há muito tempo, não quero mais. 


Encontrava, gostava, namorava, casava e depois de um tempo a paixão se esgotava, porque meu amor de casal não é terno, caridoso, desinteressado, que tudo sofre, tudo suporta, como prega o Coríntios 13.


O meu amor se magoa facilmente, se entedia, se cansa rapidamente de ouvir as mesmas histórias, de fazer sexo com o mesmo homem, de compartilhar dores, decepções, fracassos e até vitórias.


Meu amor tadinho, é tão mesquinho, volúvel, frágil e voraz. Sua voracidade precisa ser alimentada constantemente, precisa de novidade, de ações e ideias diferentes.


Meu amor coitadinho, se acaba na rotina, enfraquece na mesmice, se afoga na convivência enfadonha do dia a dia.


Hoje entendo que meu coração transborda de amor por quase todos os homens e mulheres também, mas esse amor não pode ser consumado no convívio cotidiano, precisa da fugacidade, do imprevisto, do incerto, precisa da ausência pra sentir saudade.


Preciso de todos os homens bons do mundo, de suas ideias, histórias, olhares, desejo, que na convivência, sempre se transforma em mendicância de afeto, cobrança de atenção. 


Acho bonito  um amor intenso do agora, sem perspectiva, sem esperança, sem amanhã, sem ficar junto, sem se ver sempre. 


Amor de alguém desconhecido, que deve permanecer distante pra eu desejar e sentir saudade. Pois no dia em que me aproximo para viver um amor, ele morre, meu amor nunca sobreviveu a proximidade.  


 Tive muitos homens, amei a todos, sinto saudade de todos, carrego todos comigo, sonho com eles, mas quando estivemos juntos, mesmo amando-os, eu me cansei de todos.


* Esse texto é ficcional, qualquer semelhança com a vida real, NÃO é mera coincidência.


Edilva Bandeira é Mestre em Estudos Literários (UFMS), especialista em Língua Portuguesa e Literatura (UFMS e UNICAMP), graduada em Letras, Pedagogia e Artes Visuais. É professora efetiva de língua portuguesa na rede pública de ensino de São Paulo desde 2000 na Escola Estadual Arno Hausser em Ilha Solteira. 

Postar um comentário

4 Comentários

  1. Mulher poderosa, inteligente e cheia de amor. Lindo texto!!!

    ResponderExcluir
  2. Parabéns....arrasou ..liberdade. Maria Ivanilda.

    ResponderExcluir
  3. Nossa! Que demais! "Preciso de todos os homens bons do mundo, de suas ideias, histórias, olhares, desejo, que na convivência, sempre se transforma em mendicância de afeto, cobrança de atenção.". Espero ser um naco desses! A recíproca é verdadeira! Um grande abraço desse seu "novo amigo velho homem" Edilson.

    ResponderExcluir