Por Edilson José de Almeida
Parece que foi ontem! Parece que é hoje! Parece que será amanhã! O parto foi difícil, pois Mário de Andrade já bradava nos versos que “Há uma gota de sangue em cada poema”, Bandeira vivificava a morte em “Cinzas das Horas” e Menotti, em linguagem única, trazia a tranquilidade do caboclo “Juca Mulato”. Os três precursores rompem a cronologia artística do além-mar e de mãos dadas com a Anita Malfati, quase que a fórceps, expõem a concepção da verdadeira arte brasileira.
Tudo nada planejado e ao mesmo tempo naturalmente pensada para mudar o nosso olhar para o mundo. Os deuses queriam e assim proporcionaram a trombada intelectual entre os Andrades, Mário e Oswald. Fundiram-se e, em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, embasbacaram a burguesia paulistana, que até então, ditava as laudas da arte no Brasil.
O horror exposto nos corredores e salas rasga as cortinas dos conceitos e de forma extravagante abre as janelas para a luz escura da poesia, para a (des)armonia da música, para as rupturas bem-feitas das telas malfeitas... bem feito para a nova arte (re)nascida. E os jovens ignorantes, nos dois sentidos, sentem ou ressentem o novo, talvez por serem novos, talvez por serem naturalmente rebeldes e acostumados com as vendas do passado burguês dos vossos berços de ouro. Discordam e trazem a desgraça ao todo na graça do desconhecido. Mas é assim que a arte se amplia, multiplica, cultua, cultiva a cultura e cessa o frêmito dos cegos antimodernistas.
Inicialmente, ela ofusca a visão dos ignorantes, mas aos poucos, anos depois, quase nada se passa, feito colírio, liberta-os do calabouço do passado, dessacraliza e já não causa mais estranhamento o estranho.
Tudo muda, as vanguardas inauguram o início desse futuro próximo que urge modernizar a velha arte. É lícito mostrar o ilícito, é puro mostrar o impuro, é rico mostrar a miséria, é belo mostrar o feio, é lógico mostrar o ilógico... é... não é...
A Semana de Arte Moderna instituiu a legalidade do questionamento, mas não é irresponsável no conceito das artes. Ela avaliza a essência dos artistas em todas as instâncias e respeita as criações como receituários primordiais para o tratamento das doenças que corroem as mazelas humanas.
A Arte é sangue vibrante que corre nas veias do tempo e irriga os corações anormais daqueles que transcendem a realidade. É inefável! É enarmônica! Então, viva a harmonia da desarmonia!
Edilson José de Almeida
09/03/22
10 Comentários
👏👏👏
ResponderExcluirObrigado, pelo prestígio João. Abs
ExcluirSemana de 22 deixou a Arte do Brasil ainda mais significativa e bonita. Parabéns, Professor Edilson. Ótimo trabalho.
ResponderExcluirParabéns.... Isso é arte, ótimo trabalho... Abraço ✌️
ResponderExcluirAdorei vc sempre arrasa.
ResponderExcluirA burguesia estava tão armada que Villa Lobos subiu ao palco calçando em um pé sapato e no outro um chinelo e foi vaiado. Pensaram que era um afronto, mas depois foi explicado que o artista estava com um calo no pé rsrs. Ótimo texto, professor! Enriquecedor! Parabéns!
ResponderExcluirProfessor Edilson, texto muito bem escrito. Precisa ser compartilhado com todos. Deu vontade de ler mais e mais.
ResponderExcluirA semana de arte moderna foi o início da ruptura com os modelos tradicionais, lá abriu as portas para liberdade artística que temos hoje. Parabéns professor Edilson por nós trazer a lembrança de um momento tão importante e tão atual nos nossos dias.
ResponderExcluirsensacional! parabéns irmão!!!
ResponderExcluirParabéns.....adorei.
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