Um olhar leigo na comemoração do centenário da Semana de Arte Moderna

Por Dolores Barbosa

Se me perguntarem o que é arte eu não saberia definir. Mas posso dizer o que sinto, o que vejo, e o que desejo com essa liberdade conquistada, às duras penas, pelos integrantes da Semana de 22.  Não sou  autoridade para classificar essa ou aquela obra como arte, mas posso sentir a emoção e a sensação que ela  me transmite, olhando, ouvindo, lendo ou assistindo para entender o tipo de arte que quero consumir.

E o que quero é a arte para chamar de minha, de sua e de todos! Uma arte que todos possam entender; que seja inteligível aos olhos de quem vê! Que ela seja pintada com a cara do Brasil, mostrando ao mundo não só nossas belezas, mas também nossas durezas.

Essa arte que me encanta pode ter formas simples ou complexas; quadrada, redonda, abstrata ou concreta. O importante é que ela me encha os olhos e os ouvidos a ponto de me emocionar e,  dependendo do momento, pode me fazer rir, cantar, dançar ou até chorar.

Na  literatura, peço que ela não seja rígida, recheada de palavras difíceis pinçadas do dicionário, que ao invés de ensinar nos deixa com cara de otários;  que possa cumprir o seu papel de contar histórias,  transmitir  conhecimento e cultura, influenciando positivamente na educação do povo dessa terra chamada Brasil.

E conforme escrevo vou me dando conta de que essa arte, e essa literatura já existe, e está por aí, numa infinidade de obras à nossa disposição! Podemos encontrá-las na obra de Rachel de Queiroz, em O Quinze, onde ela descreve toda a miséria e sofrimento dos retirantes nordestinos, fugindo da seca; no improviso dos repentistas tradicionais, assim como nas letras dos meninos do Rap; ou na dança de rua, sem o compromisso com a leveza e a delicadeza do balé clássico; e também nas obras de Eduardo Kobra,  colorindo espaços públicos no Brasil e até no estrangeiro. 

Sim, temos arte e literatura para todos os gostos! Mas perguntas continuam latentes, martelando na mente dessa leiga inconformada! Nós, os brasileiros comuns, somos de fato incentivados a consumir esses produtos tão diversificados em nossas prateleiras culturais? Conhecemos a fundo a arte e a cultura do nosso país? E sobre esse movimento modernista, cujo centenário estamos a comemorar agora, o que sabemos? São tantas as perguntas que vou parar por aqui.

Depois disso, e com meu olhar leigo, deixando perguntas no ar,  só me resta agradecer aos pioneiros dessa arte libertária e acolhedora, que hoje me permite escrever versos e jogá-los ao vento para que outros os alcancem, e venham compartilhar comigo dos mesmos sentimentos.

Como já disse Ferreira Gullar: a arte existe porque a vida não basta!

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