Construção da identidade negra no Brasil

Como uma das organizadoras do projeto Tecendo Leituras, eu tinha solicitado escrever neste mês do projeto que abordará a temática negra. Há muito o que se discutir, reivindicar e escurecer.


É nessa perspectiva que decidi abrir o meu espaço para outra voz, o de minha filha Luana Guimarães, recorrendo a filosofia africana Ubuntu “eu sou porque nós  somos”.


Fabiana Alves dos Santos



Construção da identidade negra no Brasil.


Por Luana Guimarães


A ideologia racial vigente a partir do século XIX e meado dos XX, tinha como característica principal o embranquecimento da população, com o intuito de melhorar as próximas gerações, pautado principalmente pelo processo de miscigenação, criando uma pluralidade de tonalidade de traços e cores, o que acabou dificultando uma consciência comum e, acabou fragmentando pessoas de uma mesma raça e os subdividindo, “[...] essa ideológica, caracterizado entre outras pela ideário do branqueamento, roubou dos movimentos negros o ditado “a união faz a força” ao dividir negros e mestiços e ao alienar o processo de identidade de ambos” (MUNANGA, 1999, p. 15).


O processo de formação da identidade brasileira recorreu a métodos eugenistas, que previa que seria possível melhorar as qualidades raciais das gerações futuras, ligado principalmente aos traços e cor da pele, ou seja, aos fatores fenótipos, visando o embranquecimento da sociedade, apesar do fracasso no embranquecimento de forma física, esse ideal ainda está enraizado e presente em nossa sociedade, nos mecanismos psicológicos presentes no consciente coletivo e cotidiano.


O processo de mestiçagem brasileira, acabou culminando no colorismo, uma forma de preconceito ou discriminação, onde membros da mesma raça são atingidos de formas sociais, econômicas e culturais diferentes de acordo com a tonalidade da cor da pele e traços, essa hierarquia de múltiplas nuanças dificulta a construção de uma consciência comum, uma vez que, quanto mais próximo dos traços de pessoas brancas, o indivíduo mais aceito é, por isso, ele acaba se distanciando e caindo em uma armadilha ao não se reconhecer e assumir sua identidade negra, ainda mais, reproduzindo um sub-racismo contra sua própria raça.


O colorismo é uma das políticas de embranquecimento do estado, que nos passa ideia de harmonia social, conhecido também como o mito da democracia racial, contudo, não devemos esquecer que dentro de uma nação marcada por tanta diversidade e pluralidade de raças, deve-se lembrar que a “ [...] mestiçagem deveria ser encarada primeiramente não como um sinal de interação e harmonia social, mas sim como dupla opressão racial e sexual, e o mulato como um símbolo eloquente de exploração sexual da mulher escravizada pelo senhor branco” (MUNANGA, 1999, p. 29).


Ressaltando a frase da pensadora brasileira Lélia Gonzalez, antropóloga, filósofa e feminista, “A gente não nasce negro, a gente se torna negro”, porque ser negro é uma construção, se reconhecer como pessoa negra e ter consciência da sua negritude é um ato de resistência e de luta contra o racismo, é um ato político.


REFERÊNCIAS


MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.


BARRETO, Raquel. Uma pesadora brasileira. Disponível em: <https://revistacult.uol.com.br/home/lelia-gonzalez-perfil/>. Acesso em: 03 jul 2021.


Luana Guimarães, graduanda em Ciências Sociais pela Unesp de Araraquara.

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4 Comentários

  1. Que maravilha de reflexão Luana Guimarães, discussão necessária. Obrigada.👏👏👏👏👏

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Bem posto historicamente! Mais que a resistência, é hora de valorizar a existência de todos os bastardos da sociedade. As fronteiras foram e devem ser quebradas sempre! Parabéns!

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