Carta para Anita Malfatti ou Uma brincadeira anacrônica

Por Marcos da Cruz

"A Boba" - Anita Malfatti

Ilha Solteira, 3 de abril de 2022.

Querida Anita, 

O mundo não suporta uma mulher que dita as regras sobre sua arte e apresenta algo novo para os olhos hipócritas da sociedade. Confesso que suas obras ainda ressoam em mim. Tento compreender tudo que meu olhar captou naquele curto espaço e tempo de sua exposição em São Paulo por meio da escrita. Sempre que o Homem Amarelo (1915) ou A Boba (1915) vem me visitar conversamos sobre você. Hoje não foi diferente. Decidi tornar nossas conversas em texto como forma de tentar entender a explosão artística de suas obras. 

Só é capaz de sentir o néctar das deusas quem está disposto a enfrentar seus processos de mudanças e reconhecer a potência de suas ações. Uma luta desleal para falar a verdade entre a mudança e o ato de se reconhecer. Espero que você reconheça a grandeza de sua arte. Toda vez que leio alguma crítica sobre seu trabalho fico em alerta: será que compreenderam a potencialidade das obras de Malfatti? Monteiro Lobato é que precisava estar no manicômio por não saber concernir que suas obras apresenta o novo, a perspectiva de futuro. A arte tem esse papel essencial em mostrar novas referências e você por meio das tintas e pincéis fez isso de forma fascinante. 

Se pudesse lhe oferecer um conselho, diria: pinte. Pinte para esquecer. Pinte para tentar alimentar seu corpo. Pinte. Pinte como um arquiteto para dar forma a tudo aquilo que vivenciou com os modernistas. Mas pinte. Por isso escrevo para registrar essas memórias autofágicas que desaparecem a cada minuto numa tentativa de te dizer que a sociedade não compreende uma mulher empoderada, dona de si, de sua arte e que tenta a todo minuto apagar o talento de mulheres como forma de opinião. Sei que essa chama expressionista que acendeu irá perpetuar por séculos, posso garantir. Seja autofágica e tente se alimentar de toda crítica que fizeram para você e renasça com arte. Uma hora isso vai passar, repita essa frase como um mantra. As críticas serão apenas lembranças sobre a genialidade de sua arte. 

Aguardamos ansiosamente uma próxima exposição.

Com carinho, um futurista. 

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